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quinta-feira, 29 de maio de 2014

Os filhos da classe C mudarão a cara do Brasil



 Rio de Janeiro 10 JAN 2014 - 15:08 BRST

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/01/08/politica/1389216166_533445.html

A classe C é hoje protagonista na sociedade brasileira. São 40 milhões que, saídos da pobreza, constituíram um estrato que está influenciando na própria identidade do país. Os filhos dessas famílias constituídas pelos trabalhadores de mais baixo nível profissional, em sua maioria analfabetos ou quase, são uma novidade tão importante que, segundo Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular, podem chegar a “mudar a cara do Brasil”.
Ao contrário de seus pais, que não estudaram, estes jovens já frequentam a escola e sabem mais do que eles. Querem, além disso, continuar sua formação para poder dar um salto social. Serão adultos muito diferentes de seus progenitores, segundo o perfil apresentado no estudo Geração C, feito pelo Data Popular, sobre esses 23 milhões de jovens entre 18 e 30 anos, que recebem salários de até 1.020 reais por mês, e representam 55% dos brasileiros dessa idade.
Esses jovens são os novos formadores de opinião dentro de suas famílias: estão muito mais informados do que seus pais, são menos conservadores do que eles (sobretudo em questões sexuais e religiosas) e começam a ter uma grande força eleitoral.
De fato, são os setores políticos e religiosos os que estão mais preocupados e interessados em saber por onde se movem esses milhões de jovens que dentro de uns anos serão fundamentais para determinar os rumos do país.
Uma pequena mostra da inquietude desses jovens -- que contrasta com certa resignação atávica de seus pais, que se entregavam passivamente às mãos do Estado benfeitor – foi sua atitude nos protestos de junho passado. Muitos desses jovens que cunharam slogans criativos e subversivos provinham da periferia das grandes cidades e são filhos dessa classe C que já exigem mais do que os pais. São também os filhos da internet, da comunicação global e têm ideias próprias sobre a política e a sociedade.
Em alguns casos são eles que estão ajudando seus pais (sobretudo as mães, com pouco ou nenhum estudo) a usar o computador para que possam ter uma conta no Facebook ou enviar e-mails aos amigos.
Um fenômeno novo é que os pais desses jovens, com um salário melhor do que tinham quando viviam na pobreza, estão muitas vezes se sacrificando para que a filha, por exemplo, faça um curso de alguma coisa e “não tenha que limpar casas a vida toda”, ou para que o filho não precise ser “peão de obra” como seu pai, e sim técnico de internet e, se possível, médico ou advogado. De fato, muitos dos filhos já estão ganhando mais do que seus pais como empregados no mundo do comércio, na administração de empresas ou empreendendo seu pequeno negócio, como um salão de cabeleireiro ou uma pequena loja.
Esses jovens logo serão maioria no Brasil, e a eles terão de prestar contas o mundo político, o econômico e até o religioso. Segundo muitos estudos em andamento, esses jovens já pensam de forma diferente dos seus pais, são mais críticos com o poder e mais exigentes com as ações do governo. No campo religioso, eles também representam uma grande interrogação que começa a preocupar as diferentes religiões, sobretudo a Igreja Católica e as evangélicas. Segundo André Singer, um dos analistas mais agudos da sociedade brasileira, os pais dessa classe C pertenciam em 90% às igrejas evangélicas nas quais hoje se encontra fundamentalmente o universo mais pobre do país, enquanto a Igreja Católica tem maior influência entre as classes mais cultas e com renda maior.
No que crerão esses jovens? Essa é uma das incógnitas, objeto de estudo e preocupação do mundo religioso. Houve 35.000 respostas diferentes à pergunta feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).
O que começa a parecer, de momento, é que muitos deles já estão desertando das igrejas evangélicas, cujos ensinamentos consideram conservadores demais. Em alguns casos, convenceram também os pais a deixar de frequentarem ditos templos.
Os católicos se beneficiarão desse distanciamento? Parece que não, já que os católicos, que constituíam 90% da população, estão perdendo fiéis a cada ano. Até ontem, para os evangélicos. A partir de agora, é difícil de profetizar.
As primeiras sondagens apontam que esses rapazes se inclinam mais em direção a uma “religiosidade sem Igreja”; a uma “secularização latente” que se afasta cada vez mais das igrejas tradicionais, tanto a católica como a evangélica. Continuam acreditando em Deus, como seus pais, mas rejeitam com mais facilidade as instituições religiosas oficiais.
Esses jovens são pós-industriais, pós-guerra fria; filhos dos movimentos ambientalistas, da cultura líquida e do processo imparável de secularização. São os que forjarão a identidade do Brasil no futuro imediato. Ou melhor, já estão forjando, embora, para muitos, isso ainda passe despercebido. E começam a ser maioria.
http://www.datapopular.com.br/

Jovem da classe C movimenta R$ 5 bi por ano

A pesquisa "Geração C: o Retrato dos Jovens Cariocas", realizada pelo Data Popular e encomendada pela rádio Beat98, busca traçar um perfil dos cariocas entre 15 e 25 anos de idade, pertencentes à nova classe média.
Segundo o estudo, o jovem da "Geração C" carioca movimenta somente com o próprio salário mais de R$ 5 bilhões por ano. 
Ele tem cartões (70% de débito, 69% de crédito, 54% de loja) e começa a ajudar financeiramente em casa: 23% fazem as compras de mês, 22% pagam contas; 64% são os responsáveis pelas compras de itens de tecnologia.  
As principais fontes de informação desses jovens são rádio e internet. Para a Geração C não há diferença entre o real e o virtual, os dois universos se misturam e se complementam, segundo o estudo.
A pesquisa detectou que 79% deles acessam a internet, 50% têm a web como principal fonte de informação, 61% acessam as redes sociais.
Ainda sobre o consumo dos meios de comunicação, 55% têm o hábito de ler jornal semanalmente.
As condições de vida e perspectivas desses jovens são melhores que as de seus pais. De acordo com a pesquisa, eles aparecem como os novos formadores de opinião da classe média carioca.
Eles são mais escolarizados: dos jovens de 15 até 17 anos o percentual de pessoas com ensino médio concluído é maior do que entre pessoas de 45 a 55 anos, por exemplo. Por isso, conseguem melhores empregos do que seus pais. Para eles, o estudo é uma conquista e uma maneira de obter boas condições de vida. 
Quando questionados sobre seus sonhos, o principal apontado é educação, seguido de trabalho, moradia, família, dinheiro e ser feliz. De cada 10 jovens universitários, cinco são da nova classe média.
Outra característica apontada pela pesquisa é que a Geração C carioca não aceita rótulos e é versátil. Tem características variadas, não faz parte de nenhuma tribo específica e circula em diversas. 
O estudo também detectou que os jovens cariocas da classe C querem curtir a noite. Ritmos como samba, funk e sertanejo, entre outros, convivem de forma amigável, segundo a pesquisa, mas os preferidos são o funk e o pagode. 
A Geração C carioca também tem uma forte relação com o lar (45% se consideram mais caseiros), que é o seu núcleo mais forte. É o local de interação com a família, sua principal referência de valores, de lazer – de onde acessa a internet, ouve música e recebe os amigos. 
A família "eleita" - amigos e vizinhos - é tão importante quanto seus parentes. 

A pesquisa também indica que a Geração C carioca não quer ser parecida com o jovem da elite, ele se orgulha de sua identidade, só quer ter melhores condições de vida. Entre os pesquisados, 76% não se preocupam com o que os outros pensam e 70% gostam de se sentir “diferentes”. 

O bairro onde mora é onde ele concentra a maioria de suas atividades. Grande parte do consumo costuma ocorrer no próprio bairro ou em vizinhos. A Geração C carioca faz suas compras em lojas de rua (62%) e em shoppings (56%). 

Entre os pesquisados, 80% valorizam ofertas e produtos com desconto na hora da compra e 275 mil jovens cariocas da nova classe média fazem as compras de supermercados. Além disso, 67% não gostam de acumular dívidas. 

Eles gastam seu dinheiro com roupas, calçados, acessórios, comidas, lanches rápidos e variedades como DVD's. 28% deles querem comprar um carro, 27% têm intenção de comprar um imóvel e 58% querem viajar a lazer.

A longo prazo, eles querem cursar uma faculdade, construir uma família e conseguir um bom emprego.

Classe A rejeita itens Popularizados

Camila Neumam
Do UOL, em São Paulo

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Rolezeiros e consumidores falam sobre uso de grifes nos rolezinhos10 fotos

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Jovens da periferia, participantes de rolezinhos, usam grifes famosas e caras, como os estudantes Deivid Santana (à esq.), 18, e Vinicius Andrade, 17. Alguns clientes de classe média alta, consumidores dessas marcas, reclamam e outros dizem não se importar. Clique nas fotos acima para ver mais informações. Camila Neumam/UOL
"Gosto de usar roupas da Lacoste, Tommy Hilfiger, Oakley, Hollister, Abercombrie; todas que estão na moda", diz o estudante Deivid Santana, 18, morador do Capão Redondo, bairro periférico na zona sul de São Paulo, que diz gastar até R$ 3.000 em roupas e acessórios a cada dois meses para usar nos rolezinhos.

Ele depende da renda da família para fazer as compras. O pai faz consertos em barcos e a mãe está desempregada. Para ajudar no consumo, revende parte das roupas que compra.
"Pago minhas roupas só à vista. Nunca parcelado porque odeio dever aos outros.", disse Santana.
Quando não está no curso supletivo, onde finaliza o primeiro ano do ensino médio, ele vai aos shoppings Morumbi e Plaza Sul para comprar as roupas de grife. 




Seu amigo Vinicius Andrade, 17, estudante, também morador do Capão Redondo, é um dos mais famosos do rolezinho. Com 94 mil seguidores no Facebook, na maioria meninas, ele diz que gasta até R$ 100 por semana para manter o visual 'na moda'. Os bicos como promoter de bailes funk e a venda de roupas permitem a gastança. 
Sem trabalho fixo, ele cursa o oitavo ano do ensino fundamental, após permanecer um ano sem estudar, devido à morte do pai.
"Quando eu ganho dinheiro, vou direto para o shopping.  Era para o meu guarda-roupa estar supercheio, mas, por eu ser bonzinho, empresto  roupas para os meus amigos e as vezes eles não devolvem", declara Andrade.

Consumidora diz fugir das marcas que "caem na boca do povo"

Entre consumidores de classe média alta, há quem prefira não usar mais suas marcas preferidas depois que elas se tornaram mais populares pela fama dos rolezinhos.




"Se é um produto que eu gosto muito, vou continuar consumindo, mas acho que cai um pouco o nível. Quanto mais cair na boca do povo, essa é a marca de que eu fujo. Eu não sigo tendência por marca, não vou comprar porque tá todo mundo usando. É mais um motivo para eu parar de consumir", afirma a jornalista Flávia Bucholtz, 41, moradora da região dos Jardins, bairro chique de São Paulo.
O gerente de logística Rodolfo Rodrigo, 23, também diz preferir evitar marcas que podem estar associadas ao rolezinho.
"Para mim, atrapalha. Eu não gosto (da associação). Geralmente as roupas do estilo rolezinho são muito 'cheguei'. Gosto de coisa mais básica. A maioria da minhas roupas é da Calvin Klein."



Marcas de grife têm vergonha de seus clientes mais pobres, diz Data Popular

Camila Neumam
Do UOL, em São Paulo

Os rolezinhos (encontros de jovens da periferia em locais frequentados pela classe média alta) causaram barulho não somente nos shoppings, mas no mercado das marcas de luxo.  Algumas delas consultaram o Instituto Data Popular, especializado em dados de mercado desse segmento, para pedir orientações de como desvencilhar sua imagem dos frequentadores das reuniões.
"Boa parte das marcas tem vergonha de seus clientes mais pobres. São marcas que historicamente foram posicionadas para a elite e o consumidor que compra exclusividade pode não estar muito feliz com essa democratização do consumo", disse Renato Meirelles, diretor do Data Popular.

"Algumas empresas me procuraram dizendo 'minha marca está virando letra de música, febre na periferia e não quero estar associado a esse pessoal'", disse.
Meirelles não informa quais marcas procuraram o instituto. Mas diz que os rolezinhos aumentaram a procura.
Segundo Meirelles, antes de qualquer mudança, ele orienta a empresa a entender o motivo desse público procurar por sua marca.
Além das empresas preocupadas com a associação, outras que viram o aumento da renda da classe C como uma grande oportunidade de negócio também consultaram o Data Popular para saber como atingir esse público.
"Depois da consultoria, duas marcas ainda insistiram em se descolar da classe C, enquanto outras quatro quiseram entrar", afirma Meirelles.

Jovens da classe C têm renda maior do que classes A, B e D juntas

Segundo levantamento do Data Popular, divulgado em janeiro, a renda total dos jovens pertencentes a esse segmento social é de R$ 129,2 bilhões, maior do que a soma das classes A, B e D juntas, de R$ 99,9 bilhões.
Em 2013, na capital paulista, o consumo da periferia alcançou um valor duas vezes maior do que o consumo da região central: R$ 188,7 bilhões frente a R$ 87,53 bilhões.
"A renda dos 25% mais pobres cresceu 44,9% nos últimos dez anos. A dos 25% mais ricos cresceu 12,8% no Brasil. Ou seja, a renda dos mais pobres cresce numa velocidade maior do que a dos mais ricos. Efetivamente esse cara está ganhando mais do que no passado, e isso vai para o consumo", afirma Meirelles.

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